segunda-feira, setembro 03, 2012

Seus olhos!



Frio. Noite sem estrelas. Lua Cheia. Azul. Rua com pouco movimento. Pessoas comuns em conversas triviais. De longe, no meio desse mar insosso, vejo os olhos dele. Pretos. Olhos em contraponto com sua pele clara. Cabelos cortados. Sorriso juvenil. Por segundos fico preso a sua imagem. Disfarço. Faço de conta que apenas o movimento comum permanece. Uma bebida. Um cigarro. Pensamentos soltos. Ele se aproxima de mim e me faço de surpreso como se não o tivesse visto ainda. Cumprimento formal. Conversa trivial. Não consigo desprender meus olhos dos dele. Brilhantes! Sua presença me transforma. Aos poucos sinto que entrego alguns pontos - coração acelerado, um desejo forte de beijar-lhe a boca. Ali mesmo. Sem pudor. Apenas desejo. A conversa estende e o frio, mais intenso, faz meu corpo tremer. Já não ouço bem o que ele fala. Quase não respondo. Apenas me fixo em seus olhos. Pretos! Lentamente me aproximo com a intenção de beijá-lo. Boca seca, respiração densa, segundos suspensos... Desvio. Sem jeito dou-lhe um abraço e cortando o assunto, me despeço. Como desculpa: o frio. Castrei o meu desejo. Talvez fosse a lua azul e seu misticismo pálido. Acendo outro cigarro com uma leve sensação de frustração.  Caminhando para casa imagino o beijo não dado e penso se o impulso não foi solitário. Acho que não. Talvez. Se tivesse seguido em frente saberia.  De certeza, apenas o preto de seus olhos em minha cabeça. E se todo o restante tiver sido engano, pelo menos o meu desejo não. 

[renato ribeiro]