Um aceno pela conta. Tempo quente! Tudo em volta dissolvendo. Na padaria leio um jornaleco vagabundo. Jornal: R$ 0,25. De super e interessante nada. Nada que se possa levar a sério. Uma ou outra notícia enquanto futilidade perde-se de vista. Mas fazer o quê? O tempo precisa passar. Sobre a mesa: copo de plástico transbordando de café quente e ralo, o cinzeiro em brasas. Café + cigarros: R$ 4,25. De morno apenas eu. Na parede o relógio derretendo assim como em Dali, a minha volta pernas que trançam e olhares ao horizonte. Todos derretendo! E é melhor assim. De pernas e olhos estou cheio. Transbordando como o café ralo, amornado, amortecido, assim como as batidas em meu peito dissolvido. “Clima confuso”, ressalta a manchete do jornal que parece esfarelar-se em minhas mãos, como se fosse para mim um indicativo. O tempo precisa passar antes que tudo se misture e meu peito esfrie. Água no norte, geada no sul e os porcos: no espaço. Conta sobre a mesa: R$ 4,50 + uma caixinha de fósforos. R$5,00 de troco de uma nota de R$10,00 dissolvida. A solução talvez esteja em migrar para o sul. Em tempos frios eu pareceria arder, nem que seja por conta da gripe. Então as coisas deixariam de dissolver diante dos meus olhos como se a culpa fosse minha. Amornado, amortecido. E talvez seja! Mas fazer o quê, se o tempo queima e o dia dissolve continuamente?