sexta-feira, janeiro 22, 2010

Chuva!

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“Desde o fim do ano passado, a chuva causou 11 mortes em Minas, segundo balanço do órgão. O total de pessoas desalojadas chega a 9.252. Por sua vez, o de desabrigados soma 1.141 crianças e adultos. A estatística ainda aponta 156 imóveis destruídos e outros 443 mil danificados.”
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Estado de Minas, 22 de janeiro de 2010.
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A chuva cada vez mais forte. Eletrodomésticos desligados por medo de curto. Casa quase escura, silenciosa. A menina na sala vendo a chuva escorrer pela janela, a mãe recostada no sofá. Ninguém havia chegado, a chuva não permitia. O bolo encontrava-se à mesa, docinhos em volta e os copos na bandeja. Guaraná Antártica, quente! As velas ao lado do bolo. Oito. “A chuva deve ter atrasado os convidados”, murmurou a menina ainda com os olhos fixos na janela. Ansiosamente, ela esperava que chegassem. O coração já não cabia mais em seu peito e a chuva cada vez mais forte. A mãe espiava os olhos brilhantes da menina, olhos cada vez maiores. “Com essa chuva ninguém vem.”, afirmou a mãe para a filha angustiada. Ouviu-se mais um estrondo e um grito abafado pela barra do vestido. A luz apagara, estavam as duas no escuro. “Ainda bem que os eletrodomésticos estão desligados”, disse a mãe enquanto percorria a casa a procura de velas. Oito da noite. Ninguém mais viria. O choro fino da menina se ouvia como um suave zumbido. “Amanhã o sol aparecerá e os outros também”, disse a mãe já sem jeito pela insatisfação da filha. Sobre a mesa, ponto a ponto, as velas clareavam a sala. Oito! As velas - agora postas no bolo - haviam sido acesas, colorindo a sala escura. Aos poucos a menina aproximou-se da mesa, encarando, com seus grandes olhos encharcados, o balançar das chamas. “Faça um pedido.”, disse gentilmente a mãe. A menina então fechou os olhos fortemente, encheu os pulmões de ar e assoprou... Todas, exceto uma, apagaram. Talvez por desejar a sala com cores. A chuva continuava cada vez mais forte. Relâmpagos! “Talvez amanhã eles apareçam.”, disse a menina com uma voz fina, impedindo que a mãe partisse o bolo. Trovoada! O estrondo foi tão grande que a menina saltou para o colo da mãe. Oito anos! Carinhosamente, a mãe a levou para o seu quarto, a deitou na cama e deitou-se ao lado dela. Abraçadas, a menina pôde sentir o calor e a respiração da mãe e a mãe o acalmar da respiração da filha, até que ambas adormeceram...
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[renato ribeiro]