terça-feira, março 03, 2009

[outras bocas]

Vulcões
Florbela Espanca

Tudo é frio e gelado. O gume dum punhal
Não tem a lividez sinistra da montanha
Quando a noite a inunda dum manto sem igual
De neve branca e fria onde o luar se banha.

No entanto que fogo, que lavas, a montanha
Oculta no seu seio de lividez fatal!
Tudo é quente lá dentro…e que paixão tamanha
A fria neve envolve em seu vestido ideal!

No gelo da indiferença ocultam-se as paixões
Como no gelo frio do cume da montanha
Se oculta a lava quente do seio dos vulcões…

Assim quando eu te falo alegre, friamente,
Sem um tremor de voz, mal sabes tu que estranha
Paixão palpita e ruge em mim doida e fremente!

Um comentário:

Adélia Carvalho disse...

Florbela, que delícia! Somos mesmo, vulcões sempre prontos a entrar em erupção, mesmo quando parecemos completamente adormecidos. Beijos. Adélia Carvalho