Embarques e desembarques. Toc, toc, toc. O salto do sapato ecoa longinquamente. Malas entupidas de pertences pessoais etiquetadas e carregadas ao bagageiro. Ali ninguém parece conhecer ninguém e nesse descaso de desconhecidos, salvam-se apenas acenos de cabeça. Sempre! Freqüência e rotina dos horários. Sempre! Mesmoshoráriosmesmasfeiçõesmesmos-nos. E o acaso fica por conta do toc, toc frequente. Toc...Volta apressada a mulher como se os segundos a engolissem e a regurgitassem. No fim das contas tudo se resume a isso: batidas de sapatos no lugar de conversações vazias. Motores ligados, todos se acomodam ligeiramente nos ônibus enfileirados. “Rumo à França com segurança!” – grita um apressado. E todos quase que no mesmo instante se entreolham. Desconhecidos e desconhecidos. Se fosse um embarque aéreo seria ainda mais inoportuno. De semelhança aparente entre eles apenas a pressa, a não ser que o ônibus de fato desapareça nas curvas da estrada, ou num verde oceânico de folhas queimadas pelo frio. E eu solitariamente sentado nos banquinhos da rodoviária, conservo meus olhares perdendo-se por entre rostos que se entreolham discretamente. MP3, MP4, MP5010, todos enganosamente disfarçam a curiosidade de saber os motivos pelos quais os horários se cruzam. Embarque na A. Desembarque na H e novas pessoas. Entre rostos desconhecidos um que sobressalta ao acaso, como se houvesse comigo hora marcada. Transporte. Trans. Porte. Calça jeans, camisa branca, boné, olhos translúcidos e fone de ouvido. MPalgumacoisa. Toc, toc, toc. E a mesmíssima mulher agita-se ainda mais ao encontrar este “porte” com um abraço invejável. A sensação de esperar o regresso talvez seja melhor que a de partir sozinho, ou a de voltar. Motores ligados. Embarque. “Rumo à França com segurança”, pensei silenciosamente comigo. Afinal, quando não tem por quem ir ou voltar, perder-se em novos ares soa tentador.
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[renato ribeiro]
Um comentário:
uau
"Afinal, quando não tem por quem ir ou voltar, perder-se em novos ares soa tentador."
uau
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