.
Os sapatos de salto apertavam-lhe a ponta dos pés. Lábios sem cor. Cabelo desgrenhado. A bolsa presa junto ao corpo. Seus passos largos denunciavam seu desejo de chegar em casa. Banho quente, roupas limpas e leves. Café e bolacha água e sal. Seus pensamentos se esvaiam pelas ruas. Domésticos! Eram quatro da manhã. Gatos nos telhados. Olhos como brilhantes jogados num canto de pouca luz. Na rua apenas prostitutas e vagabundos. O corpo dessa mulher fora devorado. Marcas nos braços, pescoço, nuca. Desgastado inteiramente. O seu corpo preso aos seus passos, a suas tensões, aos seus falsos brilhantes. Só. Além disso nada mais, somente o desejo de chegar em casa que crescia a cada aperto dos sapatos de salto. E como eles apertavam...
.
.
[renato ribeiro]
5 comentários:
E costuras lindamente a dor dos sapatos de salto apertando os pés e tantas outras dores que sem palavras, já ficam tão claras. Adorei, Renato. Abraços.
Ossos do ofício.
texto mais lindo....essa coisa de sapato, de escuro...de ruas, prostitutas....
dayane
souumhomemdepaixoes.zip.net
Já disse que adoro a fluência dos teus textos e da forma crua como conduz sua narrativa???
Muito boa essa perversão contida, esse falar do inferno pela imagem da flor, essa descrição das horas, essa dor...
Postar um comentário