2 - ‘Me diz’ alguma coisa? Qualquer coisa?
1 - Eu tenho pouco tempo. Fui à cartomante e ela me disse que tenho apenas três dias.
2 - E...
1 - Acha que eu devo acreditar? Essas coisas são tão duvidosas.
2 - Pois bem, se fosse eu, nem sequer teria ido procurá-la. Não havia precisão de saber nada. Essas coisas, que são tão duvidosas, como disse, devem ser ignoradas.
1 - Mas eu fui. E ela me disse. E agora não tem como ignorar.
2 - Geralmente elas falam de coisas felizes, não de morte.
1 - É. Achei estranho. (pausa) A cartomante me pareceu sincera.
2 - Se não parecesse, não seria cartomante.
1 - E o que eu faço agora? Eu não posso sair feito um doido achando que tenho que aproveitar tudo, ela pode estar errada. E depois eu não vou ter como me justificar. Mas também não posso continuar assim desta forma, caso ela esteja certa eu estaria perdendo tempo.
2 - É mais fácil ela estar errada do que certa.
1 - Eu vou ignorar. Eu vou tentar ignorar.
2 - E o que vai fazer?
1 - Não sei bem. Trabalhar... porque tenho que trabalhar e talvez fazer algumas coisas. Pequenas coisas.
2 - Posso saber?
1 - Claro. Quero acordar as quatro e caminhar, até que o sol nasça. Recortar algumas imagens de revista e fazer um álbum de imagens. Reorganizar meus discos por gênero...
2 - Mais alguma coisa?
1 - Não sei. Tenho que pensar.
(silêncio)
2 - Você sabe que eu não acredito muito. Nem sei por que tá passando isso na minha cabeça agora. Quero que ela leia a minha sorte.
1 - Pra que?
2 - Só para eu ter um desculpa, para fazer algumas coisas. Grandes.
1 - Qual? Posso saber?
2 - Eu quero te acompanhar nas coisas que tem para fazer.
1 - Não precisa ir à cartomante pra isso.
2 - Eu sei, é mais como se fosse uma motivação extra.
1 - E se ela disser que vai ter vida longa?
2 - Não importo, eu vou ignorar o que ela falar mesmo.
(silêncio)
1 - ‘Me diz’ alguma coisa? Qualquer coisa?
2 - Tenho três dias para fazer você se apaixonar por mim.
(renato ribeiro)
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