quinta-feira, dezembro 04, 2008

Procura-se (fragmento)


Um homem e uma mulher sentados em uma sala à parte de um estúdio de televisão que é bem simples. Eles estão esperando o intervalo passar para novamente voltarem.

Mulher: Você não foi o mesmo como de costume. Faltou um pouco mais de energia.
Homem: É verdade... não convenci muito não é?
Mulher: Nem um pouco. Quer tentar de novo?
Homem: Agora?
Mulher: No próximo quadro. Pode ser que desta vez consiga ser mais convincente em sua performance. (Pausa) Não estou querendo pressionar. Se não quiser a gente pula esse.
Homem: ‘Me dá’ alguns minutos?
Mulher: Você é quem sabe.
Homem: Pra falar a verdade eu estou um pouco incomodado, não estou acostumado com tanta gente olhando assim tão de perto. Antes de começar, eu penso que tudo vai seguir como tem que seguir, respiro fundo, repasso na minha cabeça tudo o que tenho que fazer e vou. Aí eu começo a sentir os olhares. Por todos os lados tem alguém observando, vou ficando constrangido, mais constrangido e acaba que não flui com naturalidade.
Mulher: Não dá para fingir um pouquinho? Pensar em outras coisas na hora, fazer de conta que está totalmente ali e que aquele é o seu momento?
Homem: Não.
Mulher: Se eu trocar de roupa... Ajuda?
Homem: Você quer trocar de roupa?
Mulher: Pra mim tanto faz. Preto, vermelho, rosa; longo, comprido; salto alto, sem salto... é tudo um complemento. No momento o que importa mesmo é a quantidade de pessoas. Quanto mais, mais intenso. Eu nem penso, quando dou por mim eu já estou ali no meio tomada por uma coisa que nem sei o que é. É tão fácil.
Homem: Você gosta mesmo, não é?
Mulher: Gosto de verdade. Se têm uma coisa que não abro mão, é dessa sensação. O falecido detestava, achava um disparate. Dizia que isso não era pra gente normal. Besta! Reclamava até não poder mais, mas fez algumas vezes. Lembro que na primeira vez ele tava um pouco nervoso. Na verdade foi um ultimato, joguei a bomba e disse que se não topasse tava acabado. Não sou mulher pra homem ‘froxo’, não. Não sei se foi por medo ou pelo desejo, mas ele foi tão intenso, mas tão intenso, que saí com vergão por todo o corpo. Mas ele batia com uma força... e todos aplaudiam com fervor. Meu Deus! Um animal. É só lembrar que fico toda desconcertada. Depois dessa eu quis mais, normal todo mundo iria querer, mas não conseguiu ser a mesma coisa. Foi do máximo ao mínimo em questão de dias. Quando não conseguia mais, voltou com aquele discurso de que ele não gostava, de que não era desse tipo de homem, que tinha limite. No fundo no fundo todo mundo gosta. Quando não mostra, conta. Até mais do que deveria. É só pudor mesmo.
Homem: Terminou com ele por causa disso?
Mulher: Na verdade nós já estávamos desgastados. Essa foi uma tentativa de reerguer o que estava morto, morno. Eu até gostava dele. Era boa pessoa. Um homem que qualquer mulher gostaria de ter...
Homem: Como assim?
Mulher: De qualquer mulher que siga a linha tradicional. (Silêncio)
(renato ribeiro)

Nenhum comentário: