O relógio despertou. Ensurdecedoramente. Olhar denso. Pensamentos soltos. Queria dormir mais! Chinelos arrastados. Roupão mal vestido. Cabelos desgrenhados. Com o fogão acesso, leiteira sobre a chama. Fervura pó coador. No jornal: ApossedeObamaOvestidodaprimeiradamaAesperançamundial. Crise. Espero não quebrar a cara. Queria dormir mais! Corpo cansado. Trabalho. Queria dormir mais! Fervor, água, pó preto, café preto forte amargo. Estimulante, asfixiante, anabolizante, antidepressivo. Talvez seja disso que o mundo precise. Mais cafeína. Rádio ligado. Roberto Carlos: “Como é grande o meu amor por você”. Canção para pessoas ingênuas. Eu estou vacinado. Rubéola. Hepatite. Apaixonite. De mim ninguém tira nada. Não quero metade de um fogão. Queria dormir mais! Cigarro fogo fumaça. Amor: pra quê? Por quem? De quê? Cabelos desgrenhados não conquistam ninguém. Nem cafeína. O Obama está lá. Família feliz com uma bomba relógio nas mãos. Eu aqui, com apenas um relógio na sala. A bomba já explodiu faz tempo. “Como é grande...” Isso nunca. “(...) o meu amor por você”. Otário! È disso que ele está falando. Queria dormir mais. Trabalho. Colocar o relógio para despertar novamente e dormir mais. É isso ou mais estimulante, asfixiante, anabolizante, antidepressivo.
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[renato ribeiro]
6 comentários:
"Estimulante, asfixiante, anabolizante, antidepressivo." Gostei do texto. Abraços,Adélia Carvalho.
Tá escrevendo cada vez melhor, Renato.
Parabéns pelo blog, sr. Renato Ribeiro! Escritor poético. Aquela imagem de Vidas Secas no canto superior direito me inspirou na minha leitura de seus posts.
Sobre o meu blog, é sempre bom praticar o inglês. Let's do it together! ;o)
Abraços!
Obs: Seu blog já está linkado ao meu, claro!
Na verdade a imagem é de Dom Quixote, feito por Pablo Picasso. rsrsrsrsrsrsrs
mundo exterior e suas realidades de raro bem combinam com os acontecimentos do corpo e do espírito, mano. Em mais, chocam-se. E seguem os dois. Paz e bom humor
Acaba que nao temos mais cara para quebrar, mano. Vamos olhando, vendo as esperancas sendo vendidas na TV, em tudo, cada dia uma nova e soh temos mesmo o nosso jeito proprio, nosso cafeh e cigarro, e uma casca grossa pra dar conta. Ainda bem.
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